Desencaixe

E eu tô aqui, ouvindo Jobim e imaginando tudo o que poderíamos ter sido. Mas não fomos. Não fomos porque de uma hora pra outra eu cismei que a gente não tava dando certo, que um relacionamento tinha de ser perfeito e não cheio de desentendimentos feito o nosso. Mas eu não vi que não havia problema algum nisso. Não vi que nossos desencaixes eram a singularidade do nós, que depois de uma discussão boba - aquelas idiotas mesmo, que a gente começava na cozinha, por conta de um copo sujo na pia -, a gente se resolvia na cama.

É, eu até fui idiota de cair no seu papo furado. Fingi ser uma daquelas menininhas ingênuas, mas bem lá no fundo já tinha caído tantas vezes que tinha medo de andar sem olhar pra onde meus pés iam. E foi aí que aconteceu a pior queda: não me entreguei a você. Ignorei seus telefonemas e suas mensagens de texto que ultrapassavam o limite máximo de caracteres do bom senso, como eu insistia em dizer. Ignorei cada uma de suas desculpas, quando na verdade quem mais deveria se desculpar era eu.

Hoje eu tô sentada aqui, segurando esse vinho barato e olhando pra nossa única foto juntos. Aquela menina idiota nunca imaginaria o vazio que você me faz. As lágrimas escorrem e o coração aperta, agora são as minhas mensagens e ligações que não mais importam. Eu, que fui tão amada, só me dei conta disso depois que esqueci de amar você.

Me desculpa.