7 ligações perdidas

Meia noite e quinze, duas ligações perdidas e o celular chamando outra vez. Número desconhecido, ela nem é de atender telefone, mas perde pela insistência.
 -Alô? 
-Monique? - Ela reconhece a voz do outro lado da linha e é automaticamente inundada por um turbilhão de sentimentos. 
-Monique? 
Ele insiste, mas ela não é capaz de responder. Não agora, não meia noite e dezesseis, não mais. Há três meses resolveu deixar para trás tudo o que lhe fazia mal, inclusive ele. Excluiu do Facebook, tirou do Whatsapp e o enterrou num cantinho bem profundo do coração. Nas noites frias em que a saudade batia, ela repetia pra si mesma debaixo das cobertas: “não mais, não mais”. 
No começo foi difícil, mas logo se re-acostumou a uma vida mais simples, sem aquela necessidade de deixar várias coisas de lado para viver pelo outro. Solteirice. Uma palavra temida por grande parte de suas amigas era agora sua realidade – e por mais estranho que parecesse, ela estava bem assim. Estava bem até agora. 
-Monique, lembra de mim? 
Sim, ela lembrava. É claro que ela lembrava. Lembrava dos beijos amargos com gosto de álcool, dos abraços quentes em meio às noites frias, de todas as vezes que ele secou suas lágrimas. Era impossível esquecer as mensagens cheias de corações, dos “tô com saudade de você”, dos “tô chegando aí”... Mas ela também se lembrava de todas as vezes em que ele fora motivo de suas lágrimas, de todas as respostas curtas que recebeu, de todos os abraços que deveriam ser dados mas não foram. Era impossível esquecer. 
Pendeu a mão para fora da cama e enquanto ouvia um repetido “Lembra de mim? Lembra de mim?” deslizou o dedo para o botão de encerrar a chamada. O celular apitou mostrando outras chamadas. Uma a uma, todas perdidas. Naquela madrugada foram sete.

Ela se lembrava, mas já queria ter esquecido.