Olhos cor-de-céu, olhos cor-de-mar.

E lá estávamos nós. Não juntos: você com ela e eu... 

Bem, eu estava só.

Em segundos nossos olhares cruzaram-se. A batida forte da música, fazia meu coração pular dentro do peito, mas naquele instante - quando seu olhar pousou sobre meu rosto - ele começou a vibrar de tal maneira. O suor pingava de minha testa, meu corpo tremia por completo e eu tossia muito.

Minhas pálpebras ameaçaram fechar, minhas pernas não aguentavam o peso de meu corpo sobre elas e minha mente não pensava em nada, quando percebi que era o fim. 

Caí no chão.

Minutos, horas ou talvez dias depois, acordei e sobre meu rosto, os mesmos olhos azuis. Senti tudo rodar ligeiramente, mas quando o dono daqueles olhos cor-de-céu tocou meu rosto com sua mão quente e grande, eu senti. Eu senti que era ele. Senti uma onda de frio percorrendo meu corpo, mas não queria que aquilo acabasse. Que nunca acabasse.
Vi outro homem entrando no quarto, este vestido de branco dos pés a cabeça.
Numa das cadeiras almofadadas, estava ela. Com sua bolsa Gucci sobre o colo, seus cabelos loiros, agitando o pé nervosamente enquanto resmungava alguma coisa.
Sua maquiagem havia borrado e um líquido preto escorria por suas bochechas claras.
Ela estava... Imunda. Mas, francamente, eu devia estar muito pior do que ela. Se não, eu não estaria ali.
Tentei perguntar o que eu tinha para aquele homem de branco, que agora estava ao lado direito da cama, mas minha boca sequer se moveu. Todavia, como que em telepatia, o homem dos olhos cor-de-mar perguntou:
-Mas então, doutor... O que ela tem?
O médico pousou sua mão direita sobre o ombro do outro e disse:
 -Meu filho, ela sofre... De amor.
Ele olhou perplexo para mim. Meus olhos encheram-se d’água e um sorriso apareceu em meus lábios, balbuciei lentamente:
-Por você.