Ponto final



Eu gosto de coisas bem explicadas. Branco no branco, preto no preto. Gosto de gente simples que não faz mais jogos do que uma boa (e longa) noite de amor. Gosto de me entrelaçar sabendo que a qualquer momento terei hora pra ser só um. Mas com você, meu bem, foi tudo um caos. Foi trilha sonora no momento da fala, foi imagem sem foco no rolo da câmera. Você, que me pareceu ser o mais tranquilo dos amores, se transformou em turbilhão desconexo no meu peito. Chegou sem pedir licença; se foi sem dizer adeus.

Como sempre, me entreguei sem nem adaptar meus olhos à escuridão. Achei que ali, finalmente, encontrara um lugar pra descansar o corpo e a alma depois de meses conturbados. Grande engano. Desfiz outros amores, te dei feriados, compartilhei minhas músicas preferidas. Pra nada. Pra nem um "a gente tá acabando por isso, me desculpa".

Chegou afagando e sussurrando letras de amor pra depois cravar navalha no peito e deixar sangrar. Se foi feito vento que a gente só sente na hora que passa. Colocou dúvidas na minha cabeça e uma vírgula que hoje sei que é ponto final.

Geleia de morango e amores pra vida toda

(Escrito enquanto eu ouvia Rubel - Quando Bate Aquela Saudade)

Quando você me disse que não tava bem, o coração ficou miuidinho. Te ver assim, não tão bem, não toda cheia de sorrisos, é quase como fim de livro que tem continuação. A gente sabe que tudo pode mudar no próximo volume, mas no intervalo de tempo da espera quase morre de ansiedade. Eu, que sempre te vi tão linda, com aquele batom cor-de-vinho combinado com a doçura do teu olhar, nem consigo pensar na possibilidade de você diferente disso.

Mas, ei, enconsta sua cabeça no meu peito e conta o que quer que esteja engasgado aí. Seja na garganta ou no coração. A gente tá junto nessa e eu sei que você sabe, mas insisto em dizer (e redizer). Preciso tanto do seu sorriso. Saiba que aqui, nessa cama de solteiro, tem espaço o suficiente pra gente dormir uma ou mil noites. Tem espaço pra cada pedacinho de você e se me permitir, espero ter a honra de poder experimentar cada um deles. De conchinha nos dias-bons ou de costas um pro outro depois de uma discussão boba. Mas sempre juntos. Sempre um só.

Então vem cá, se quiser até faço um café e a gente conversa sobre coisas banais ou sobre como você conheceu aquele autor desconhecido e agora quer ter uma biblioteca inteira dos livros dele. Enquanto isso eu te observo passar aquela geleia de morango no biscoito de água e sal. Imagino um close e uma música do Rubel no fundo; só porque a vida é assim. Tem momentos bons, tem momentos ruins e cê sabe que eu tô sempre por aqui. Eu quero tanto estar aqui. Por mim, por você, por nós.

Esse texto já deve estar todo louco e desconexo, mas é que eu senti uma vontade imensa de dizer que eu te amo. Eu te amo tanto e insisto em redizer, só pra você não correr o risco de um dia esquecer.


Agora me beija a boca com gosto de geleia de morango: te amo tanto.

Pela liberdade do amor


A gente posterga o eu te amo até o fim com medo do que o outro vai pensar. Mesmo com o coração gritando "vai!" com todas as forças, a mente cria um monte de paranoia e nunca saltamos para o outro lado com medo de cair no abismo. E para começar, acho que amar é exatamente isso: saltar sem medo do que há de vir. Andar de olhos vendados e segurar a mão de um estranho que, por acaso, se propõe a ajudar. Amar é correr riscos constantes. É errar o sabor preferido de picóle, é ceder e assistir um filme de um gênero que você não gosta, é pedir desculpas em forma de beijo. Amar é dar um pedacinho de si para o outro sem saber onde ele vai guardar. É acreditar no lado positivo do outro sem nem saber o nome dos seus pais ou seu endereço completo. É saber que ela estará na rodoviária da sua cidade caso as coisas fiquem pesadas demais para você carregar sozinho.

Só que o problema é justamente esse: temer o desconhecido nos faz criar uma bolha imaginária e viver sempre na zona de conforto. Hoje damos uns beijos e ficamos nisso; amanhã jantamos naquele restaurante bonito da rua da frente; depois talvez até possamos ir pra cama - mas sem depositar sentimentos, é claro. É nesse constante medo de se entregar, de relutar contra o que o próprio coração diz, que a gente nunca descobre que o outro sente igual. Que o encontro no restaurante bonito foi, sim, muito bom, mas que ela teria adorarado do mesmo modo caso a levasse num Mc Donald's qualquer. São nesses momentos em que damos voz ao silêncio, que nos aquietamos com medo de falar bobagem ou soar precipitado demais, que perdemos as melhores coisas da vida.

Perdemos um sorriso que começa pelos cantinhos da boca e logo toma conta do rosto inteiro, perdemos os olhos apaixonados que, agora espremidinhos, revelam um brilho fora do normal. Perdemos um abraço, um beijo mais intenso. Perdemos um "eu também te amo, muito". Perdemos um pouco de nós toda vez que optamos pelo sentimento velado, escondido embaixo do tapete empoeirado da sala de estar. 

Ao contrário do que muitos dizem, amar não é limitar-se. Não é ignorar o mundo a sua volta, as saidinhas com os amigos e as festas no sábado a noite. Amar não é ter de ser outra pessoa porque assumiu um compromisso. Amar é estar tão bem consigo a ponto de saber que dividir um pouco da sua vida só vai te acrescentar. Vamos nos permitir pelo menos um passo no escuro, vamos aceitar aquela mão estendida quando estiver perigoso demais de atravessar a rua sozinho. Como cidadãos livres e independentes, deveríamos passar a enxergar o amor como mais um espacinho para conquistar a liberdade. E é pela liberdade do  amor, dos sentimentos, e das formas de expressar o que já é visível à alma, é que eu dedico esse copo de coca-cola (mesmo sabendo que ele odeia quando me afogo nos refrigerantes, mas mesmo assim, me ama).

Saudade


Sinto falta de um carinho na nuca, de um abraço apertado, de andar de mãos dadas. Sinto falta do seu cheiro em mim, do seu sorriso sincero, de uma mensagem falando que a saudade tá tão grande que transborda nos olhos. Sinto falta do que um dia nós fomos, ou tentamos ser.

São nessas noites mais frias, que o céu se enche de estrelas e o peito de lembranças, nessas mesmas noites em que aquela cobertinha fina parece não esquentar suficientemente o coração, que a saudade entra sem nem pedir licença. A gente até tenta disfarçar com uma colher de doce de leite, com um livro de suspense há tempo esquecido na gaveta, ou com qualquer filme que-não-fale-de-amor e esteja disponível no Netflix. Mas só tenta. Porque não dá.

Não dá pra fingir que o corpo não deseja o toque, não dá pra negar que dormir no peito do outro era tudo o que você precisava; seja pra esquecer aquela semana ruim, seja pra se sentir seguro em algum lugar familiar. A saudade, um dia ouvi dizer, é o que mais dói. Nada que a dor de um joelho ralado possa se comparar. Ultrapassa.

Mas amar é isso: respirar fundo, deitar encolhidinha no canto da cama, jogar um lençol por cima da coberta e esperar pelos dias de sol. Esperar pelo dia que ele vem. Que ele volta.

Mas volta logo, tá?

Tudo o que a gente teve


Olha nos meus olhos e diz mais uma vez que me ama. Diz daquele jeito que só você sabe dizer, fala com os olhos, com a alma, com o coração. Diz que tudo o que a gente teve foi lindo, que você também vai levar no peito as boas lembranças e jogar pra fora da cabeça o que nos foi motivos de lágrimas. Deita aqui no meu abraço e nem que seja essa a última vez, me diz que valeu a pena. Porque do lado de cá, nesse coração que pulsa cheio de saudades, eu te digo que valeu demais. Cada amanhecer ao seu lado, cada sorriso bobo, cada abraço que você me pedia depois de ter insistido uma vida em assistirmos aqueles filmes de terror. Valeu por cada brigadeiro de panela, por cada birra que você não aguentava levar por mais de três minutos e voltava de sorriso amarelo pedindo mais um beijo. 

Ah, se você soubesse como me completou. Você fez transbordar a parte mais bonita que existia em mim, me fez enxergar o mundo por outra perspectiva e, mesmo que de ponta cabeça algumas vezes, valeu a aventura e o frio na barriga. Você me mostrou que o amor, aquela palavrinha que a gente vive falando que é linda mas morre de medo de viver, é a escolha mais arriscada que a gente pode fazer. Eu escolhi você; nós nos escolhemos e por todo aquele tempo fomos um só. 

Hoje eu junto todas essas lembranças enquanto dou mais um gole no copo de coca e como um pedacinho daquele chocolate que você dizia ser seu favorito - e já adianto as desculpas, mas agora é o meu também. Esses dias eu percebi que tudo o que a gente teve foi lindo. Tão lindo quanto o final daquele filme que você assistia todo começo de ano. Tão lindo quanto seu sorriso num dia nublado. Tão lindo que me deixa uma saudade apertadinha no peito, mesmo que eu saiba que a gente não vai se encontrar novamente. Deixa aquela saudade gostosa, que lembra que um dia vivemos algo muito bom. Hoje eu te agradeço por essas lembranças, te agradeço por mostrar que mesmo depois de um “adeus”, o amor pode continuar existindo em toda a sua singularidade. 

Obrigada por ter me amado também.